A mais polémica representação cinematográfica de São Sebastião, quiçá a única, deve-se a Derek Jarman (1942-1994), cineasta EN, cuja cinematografia, constituída por 11 filmes, tem em Sebastiane (1976) seu primeiro longa-metragem.
Dirigido por Derek Jarman e Paul Humfress, escrito por Derek Jarman e James Whaley, com música de Brian Eno e Andrew Thomas Wilson, tendo no internacional elenco Leonardo Treviglio (como São Sebastião), Barney James (no papel de Severo), Neil Kennedy (Máximo), Richard Warwick (Justino), Robert Medley (Diocleciano), o filme causa estranhamento, primeiramente porque seus diálogos são todos em latim, língua considerada morta. Note-se que, em 2004, Mel Gibson usou, em seu polémico "The Passion of Christ" (A Paixão de Cristo), também o latim, ao lado do hebraico e do aramaico.
São Sebastião, antigo capitão da guarda pretoriana de Diocleciano, passou à iconografia como um mártir em que na nudez escultural se exalta o sacrifício da juventude e da beleza, mas que em certas representações uma atitude equívoca do corpo crivado de setas sugere o que hoje chamamos de masoquismo. Derek Jarman, com o seu primeiro filme, "Sebastiane", abstraiu-se quase completamente do contexto histórico e da motivação religiosa do personagem para se entregar, com alguma complacência, à hagiografia "desviada" do santo, tal como uma a elaborou parte da cultura moderna. A morte de Sebastião surge aqui como o resultado do desejo trágico, cuja impossibilidade parece, apesar de tudo, abstracta, dada a insuficiente caracterização psicológica. E podíamos ver neste final uma variação do tema de Salomé. Como São João Batista, Sebastião é condenado à morte por despertar um desejo impossível, que o facto de ser partilhado torna mais impossível ainda na dialéctica do sacrifício.
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